Seja bem vindo!

Registraremos viagens comuns, de pessoas comuns. Mas como gostamos: livres, sem uma sequencia de compromissos e obrigações, decidimos o que fazer em cada lugar. Como na música de Kleiton & Kledir:
vou pra onde o vento vai...

...E aí
Seja o que for
Nós, ao sabor do vento...




sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A quinta feira 13... já pensou se fosse sexta?

Não somos supersticiosos, Cláudia e eu. Mas, como nos disse a Simone, uma especialista em numerologia que depois conhecemos em Atlântida (UY), não dá para desprezar evidencias... Mas julgue o leitor!

Saímos de Buenos Aires mais tarde que o planejado (uma ocorrencia realmente excepcional em nossas viagens). Sairíamos pelas 8:30h, entre as últimas combinações para o retorno da Le e Mari, a lembrança de que não tínhamos tirado fotos com a moto na Recoleta, os acertos no hotel, uma conversa com um colega motociclista de SP, achar a chave da moto (tinha ficado no quarto e não na bagagem), saída: 10:30h.
Buenos Aires em transito normal...

Primeira ocorrencia do dia: o GPS demorava a (re)calcular a rota e dizia: siga para AU-9 e RN-14. Claro que ele estava certo... mas como eu chegaria na AU-09, a magnífica estrada que nos trouxe a Buenos Aires? Só faltava ele dizer isso, é mole?

Enquanto eu pensava o que fazer para funcionar o GPS, resolvi ir andando pelo caminho que conhecia, e depois mudei o destino para uma cidade na saída, bem perto de BsAs, o que facilitaria o calculo da rota pelo GPS. Deu certo, mas como eu tinha andado umas quadras em direção ao centro, o GPS roteou pelo trajeto mais curto e, em lugar de sair logo para a AU-9 (perto do hotel) levou-me pelo centro, com movimento pesado, calor infernal, congestionado. Bem, não daria ainda para dizer que foi azar de dia 13, era um acaso...

A RN-14 e uma de suas pontes
Seguimos atrasando no trânsito e, quando chegamos na AU-9 pareceu o paraíso... 140 a 160 km/h, seis pistas de ida para viajar... durou uns 80 km, e pegamos a famosa RN-14. A estrada é boa, belas pontes, e tínhamos muito cuidado com a velocidade permitida. Muitos nos alertaram para a região, "paraíso" da polícia de Entre Rios, referida pelos argentinos por "molestar" os viajantes: lembre que molestar não tem o mesmo significado em espanhol e português, para eles é mais como "incomodar"; mas muitos motociclistas brasileiras concluiram que o significado oculto e verdadeiro é molestar em português, mesmo. Julgue pela continuação deste.

Gasolina em falta: Saindo de Buenos Aires, ainda na AU-9, e entusiasmado pela rapidez permitida pela estrada, deixei passar alguns postos de gasolina grandes... estava mais tranquilo, afinal, mesmo com a falta de moeda nos caixas eletronicos eu tinha conseguido sacar pesos suficientes (no Citibank) para abastecer na viagem, e parecia que a falta de combustível era coisa do passado... e aqui começaria um sufoco: começamos a buscar um posto para abastecer quando o computador de bordo dava uma autonomia de mais de 160 km. É incrível estar numa rodovia de pista dupla, largos canteiros, asfalto impecável e postos escassos, e quando tinha posto não tinha gasolina. Paramos em um posto grande (Shell) quando a autonomia era de 22 km. Não havia "nafta", e o frentista disse que o próximo era a 20 km, na pista contrária, e garantiu que haveria combustível. Estava um calor infernal (termometro marcando 33° C) e pedi que pelo menos me arrumasse 1 litro de gasolina para evitar o risco de ficar na estrada. Nada feito. Recomendou-me que esperasse um caminhão passar e fosse atrás dele para evitar a resistencia do vento!!! Dito por um frentista de posto!

Saimos apreensivos, Cláudia mais que eu, pois eu contava que se mantivesse 70 km/h aumentaria a autonomia pois faria uma média melhor que antes. A essa velocidade, 20 km demoram a passar. Vimos o posto, e ironicamente a "bandeira" não era Esso, YPF, era "Bandeira Branca" mesmo; estava na outra pista, fizemos um retorno bem devagar (pois ali estavam parados dois carros da Gendarmeria, um tipo de polícia argentina)  e conseguimos chegar, mas cheguei com autonomia zero. Havia combustível, mas segundo o frentista tinha chegado há pouco. Abastecemos, vimos um furgão pequeno e estranho abastecendo também, cheio de equipamentos eletronicos com luzes piscando dentro, portas abertas na traseira. Tomamos água e comemos batatas fritas, pois seria o almoço. Na saída, o dia 13 atacou: um desleixado pintor estava usando uma pistola para pintar o teto do posto (de branco, claro), e o vento espalhou a tinta deixando a moto cheia de pintas brancas... que vontade de chutar alguém, mas... país estranho, pessoal grosseiro, desisti. Cláudia limpou um tanto, resolvemos prosseguir e deixar para limpar em casa. Fizemos o retorno novamente para a pista oposta, e passamos pelo furgãozinho branco parado logo após o retorno, mas estávamos devagar... era um radar móvel disfarçado, sem indicações de ser da polícia, próximo a placas sequencialmente 120/100/80 km/h.

Velocidade, não em falta... Apreensivo, segui muitos quilometros dentro dos 120 km/h, e cuidando pois em retornos, como o que estava o furgão antes, a velocidade diminuía para 100 e depois 80. Embora os argentinos passassem muito rápido sempre, resisti bravamente, pois me faltavam uns 50 km para sair da Argentina. Não adiantou muito: Passamos mais um furgão daqueles, dentro da velocidade (pelo menos acho) correta, novamente perto de retorno com placas mandando reduzir para 80. Os argentinos que estavam à minha frente passaram a uns 150 km/h e pareciam enlouquecidos, querendo parar no acostamento, retornar, fazer qualquer coisa. Eu prossegui tranquilo. Fui parado em baixo de um viaduto, o policial olhou todos os documentos, carta verde, faróis, tudo. E disse que lamentava, mas me "molestariam" por excesso de velocidade, pois eu havia passado a 104 km/h quando estava na placa de 80, no radar do furgão... não houve argumento, negociação, nada que fosse aceito ou ouvido.

Levaram para um trailer meus documentos, chamaram-me um tempo depois. O policial, educado e afável, me chamava pelo nome, e repetia que excesso de velocidade é falta grave, que a multa era 1160 pesos (mais de 500 reais), que no Brasil perderia a carteira. Não adiantou eu dizer que estava reduzindo ainda naquele ponto, que outros carros passaram direto à minha frente. Disse-me que os argentinos pagariam a multa em casa, mas como estrangeiro precisava pagar ali, para ele, senão a moto ficaria retida, teria que pagar armazenamento, retirada, transporte... Eu argumentei (e era verdadeiro) que só tinha 100 pesos, ele disse firmemente: "Pedro, isso é uma multa, não tem jeito. Ou paga ou fica a moto. A não ser que queira ir até a cidade próxima (Gualeyguachu) sacar o dinheiro do caixa automático. Nós lhe levamos, você tem ainda limite no cartão? Quando sacou da última vez?" Eu concordei que se essa ara a única alternativa, faríamos isso.

Outro policial já estava de capacete na mão, me esperando para buscar o dinheiro... daí perguntei se podia pagar em dólares... e podia. Lá se foram 300 dólares, os últimos recursos em moeda que eu tinha. Em troca recebi um recibo de multa impresso no local, com carimbos de verdade e um monte de indicações de infração, mas nenhuma mencionava excesso de velocidade... É duro aceitar o achaque, e estranha a forma do preenchimento... mas isso deixei para pensar depois. Fica como mais um alerta do tipo que você vê muitos na internet: fuja da província de Entre Rios e especialmente da RN-14. Mesmo os argentinos com que falei antes dizem que ninguém escapa sem ser pedagiado...

A multa está aí. Tirei alguns identificadores, pois fica pública.Veja quantas violações juntas nela aparecem, nenhuma menciona o alegado excesso de velocidade. Engano? Está contida na última menção? Não desrespeitei nada chegando ao posto de controle, e estava mais devagar que nunca... Não sei se adianta pensar nisso, já foi muito, mas muito aborrecido o quanto já busquei pensar no que errei, se na velocidade ou na conversa com os policiais. Mas vou entrar em contato com o Consulado da Argentina. Não quero me defender da multa, acho tarefa espinhosa e inócua. Quero apenas saber se eles tem esse arbítrio truculento de dizer o quantas normas violei e reter meu veículo, sem defesa. No futuro, coloco aqui a resposta. Não sei quanto é diferente no Brasil quanto à multa, mas pelo menos sei que não podem reter veículo com passageiro, ao menos por motivos como o que legaram que fiz.
Nunca tão poucos fizeram tantas infrações de uma vez...

Foi o que bastou para eu querer sair desse país o quanto antes, e 30 km depois entrei no Uruguai por Fray Bentos. É incrível a sensação de paz e segurança que sinto no Uruguai, talvez por nunca ter sido achacado ali, e os policiais sempre foram educados. Não é o paraíso, mas foi uma desgraça a experiencia com a polícia de Entre Rios.
Estrada e palmeiras: combinação uruguaia
Curiosidade: na migração da Argentina para o Uruguai, mais brasileiros que transgrediram as normas de trânsito (um deles, que conseguiu negociar a multa, teria que pagar 2200 pesos porque tinha o engate de reboque, num Corsa!
Chegando a San Jose

Ah! o Uruguai... As estradas uruguaias são magníficas, o transito escasso; nesse trecho havia um volume pouco maior por ser um corredor de caminhões transportando via aduana de Fray Bentos. Mas nada que se compare ao transito no  Brasil nas principais estradas que usamos.

Andar por estradas ótimas, com motoristas educados que, quando andam devagar por serem carros velhos e caminhões, saem para o acostamento para que você passe... é realmente um povo cortês. No Brasil, isso não poderia ocorrer pois por lei é proibido trafegar no acostamento.

Trechos longos em reta permitiam velocidades altas. Apesar da experiência desagradável na Argentina, apostei que no Uruguai a quinta feira 13 teria esgotado os azares... e acertei. Nada mais excepcional aconteceu.

Abastecemos normalmente a boa gasolina uruguaia (usando cartão), e fizemos lanches honestos (só em "efetivo", mas eu tinha os 100 pesos argentinos, aceitos sem problema), o que tornou a paisagem mais agradável... só o calor muito grande, mas, podendo andar e usar o vento, sem problemas.

Como variação de tema: Numa dessas paradas, comprei uma revista espanhola (datada de um ano) com um comparativo entre a BMW K 1300 GT e duas outras concorrentes inexistentes no mercado brasileiro (Honda PanEuro 1300 e Kavasaki GTR 1400). Seria suspeito eu dizer que lendo a reportagem a BM é superior às outras, ou seria porque não entendo bem espanhol? Tenho a revista para um tira-teima. Para os curiosos, as fotos:





Seguimos pela Ruta 2 até a cidade de Cardona e depois a Ruta 11 nos levou até a ruta interlitorânea (que liga Colonia del Sacramento, Montevidéu e Punta del Este), mas adiante de Montevidéu e seu tráfego. Mesmo sem ser necessário usar o GPS, o mapa estava exato; apesar dos atrasos chegamos à margem do Rio da Prata, em Atlântida, passados um pouco das 20:30h, sol poente. Pesquisamos por hotéis no GPS, mas só achamos um por indicação, perfeito para o que queríamos: dormir com conforto. Atlântida nos surpreendeu pelo movimento de veranistas, incluindo brasileiros, e ali jantamos no La Pasiva com duas gaúchas de Bento Gonçalves, chamadas Simone (a numerologista do início deste post) e sua tia, Vera. Conversa agradável, jantamos pizza e fomos dormir, para no dia seguinte sair para a Barra do Chuí. Mas esta é uma história que a Cláudia contará melhor.

Um comentário:

  1. Grande relato meu amigo.
    Minha sugestão é que você faça o relato para embaixada argentina com copia da "multa".
    Quem sabe outras pessoas não serão "molestadas" por esse profissionais.
    Pode não adiantar nada, mas, quem sabe não é?

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